quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Cem anos de nascimento de Simone de Beauvoir





Há cem anos, exatamente (09/01/1908), nascia uma mulher chamada Simone de Beauvoir, uma precursora da mulher empoderada em seus direitos legais e naturais.

Companheira de Sartre, ficou muito conhecida, em especial por causa de seu livro,apresentado geralmente, em dois tomos , chamado"O Segundo Sexo", onde analisa detalhadamente a condição feminina em várias culturas e em todos os tempos.Também por causa de "Os Mandarins", onde a condição de ser do escritor,é colocada a olho nu.
Simone de Beauvoir causou muita polêmica, por seu relacionamento com Jean Paul Sartre, não apenas pela continuidade, intensidade e singularidade, mas, em especial, porque ambos viviam um a amar e admirar o outro embora totalmente livres para relacionamentos ocasionais com outras pessoas, numa amplitude de respeito ao ser do Outro.Ambos sabiam que sempre seriam o porto seguro um dos outro.Juntos, conheceram muitos países, inclusive o Brasil, onde estabeleceram um relacionamento de amizade forte com o casal de escritores Jorge Amado-Zélia Gattai.

Bepois de públicar seu diário(Memórias de Uma moça bem Comportada"), Simone deu-lhe continuidade relatando detalhadamente sua vida com Sartre e com outras pessoas, em "A Força das Coisas".É nesse livro, que ela narra sua visita a nosso País.
Existencialistas, de esquerda sem serem comunistas, os escritores viveram os reflexos da guerra na Europa, a difícil questão entre França e Argélia.Posicionados contra a tortura e pelos direitos humanos,participaram intensamente de vários movimentos .Em sua época , os escritores representavam seus países, suas facções, seu ideal, sua cultura.

Licenciada em Filosofia , pela Sorbonne(1929),nessa ocasião, apresentaram-lhe SARTRE.
Seu primeiro romance que fez sucesso, foi "A CONVIDADA"(em 1943).O casal conviveu com muitos artistas autores franceses e de outros países,renomados .
Sua morte, em abril de 1986, há pouco mais de duas décadas, encerra um capítulo extraordinário da literatura Mundial, de um "modus vivendi", um "savoir vivre" bastante peculiares.Suas idéias e comportamento- falo do casal e de cada um deles individualmente- influenciaram gerações.

Quando Sartre lhe fala sobre seu relacionamento com "M", contando a ela que agora "a afeição deles era recíproca",que pensavam em passar de de três a quatro meses juntos por ano,a preocupação da escritora foi que ele estivesse se deixando levar pelo "romanesco dessa aventura", uma vez que ele falava "com tanta alegria", conta Simone,sobre "as semanas passadas com ela (M)em Nova York...Revela:"Quis tirar tudo a limpo.Muitas vezes acontece,quando uma questão perigosa nos queima os lábios.Escolhermos mal o momento de nos livrarmos dela(...),perguntei:"Francamente, de quem você gosta mais, de "M"ou de mim?"
-"Gosto muitíssimo de M.,respondeu-me Sartre,mas é com você que eu vivo.
(...)Mais tarde, Sartre se explicou;havíamos sempre atribuído mais verdade aos comportamentos do que às frases, e era por isso que, em vez de se perder em discursos,ele invocara a evidência de um fato.Acreditei nele."

A própria Simone, manteve, por exemplo, um caso com o escritor Algren e viajava , sempre que possível, aos Estados Unidos para estar com ele .Mais tarde, envolveu-se com Lanzmann.Os dois tornaram-se , ao mesmo tempo, amigos de Sartre e conviveram com eles enquanto casal.Ou seja, àquela época, não apenas mantinham um casamento aberto (embora não tivessem se matrimoniado legalmente),mas também davam um inusitado exemplo de respeito à liberdade de ser um do outro, sabiam que sempre retornariam para a unidade nuclear que formavam e que eram duas pessoas, não uma, qual o mito romântico apregoava.E praticavam o hoje decantado amor incondicional.


Hoje, por uma delicada e significativa sincronicidade cósmica,estava acamada e reli "A Força das Coisas" e, de repente, revendo a orelha da contracapa, vi que justamente nesta data, ela nascia.Estrela de grandeza rara.Nós, mulheres, devemos a ela os estudos sobre a condição feminina que tanto ajudaram , não apenas na compreensão do papel de gênero, mas ainda a elaborar leis mais justas para as mulheres, ainda em pleno combate , em busca de reconhcimento e respeito.

Levantei-me e vim digitar essa chamada:há cem anos, nascia Simone de Beauvoir.

Eis algumas de suas palavras:

(...)"Nunca é justo assumir ares de superioridade com pessoas cujas dificuldades não se partilhou".

"(...)Só se lança o escritor sobre um pedestal para melhor conhecê-lo e concluir que se errou ao colocá-lo ali".

(...)"Eu desejava ser lida enquanto viva,por muita gente,desejava que me estimassem,que me amassem.Estava pouco ligando para a posteridade.Ou quase não ligava".

(...)"Durante esse período, mantive um diário.Eis aqui o extrato dele;revela, aquilo que minha memória não consegue ressuscitar:a poesia cotidiana da minha vida."

"Uma coisa realmente deu certo em minha vida:meu relacionamento com SARTRE.Em mais de trinta de anos.só dormimos separados uma noite(*).Essa longa união não atenuou o interesse que mantemos em nossas conversas>uma amiga observou que cada um de nós sempre houve o outro com grande atenção.Entretanto, tão assiduamente criticamos, corrigimos,sustentamos reciprocamente nossos pensamentos ,que eles nos são todos comuns."

Essa, a meu ver, a essência da relação conjugal ou de amizade que perdura:o diálogo franco. Ela revela, com simplicidade :"se nos fazem uma pergunta,acontece-nos de formular juntos respostas idênticas",no epílogo de "A Força das Coisas".Pena que a maioria das pessoas não tem suficiente coragem para serem elas mesmas frete ao ser amado ou aos amigos , esquecem que somos amados "apesar" de nós mesmos , além de porque somos nós mesmos...

CLEVANE PESSOA DE ARAÚJO LOPES
BELO HORIZONTE,MG,BRASIL, 09/01/2008

Um comentário:

Style Rio disse...

Adorei seu texto, a história dos dois foi realmente muito incrível.

Dela, gostei muito do "Sangue dos Outros"

Bjo, Renata